O coveiro Jair Fernandes da Conceição dos Santos, de 40 anos, que manteve uma menor, de 16 anos, como refém por mais de 10 horas ontem, no Parque Mambucaba (Perequê), poderá pegar até 25 anos de prisão. Segundo o delegado da 166ª DP (Angra dos Reis), Francisco Benitez, Jair será indiciado por cárcere privado, tentativa de estupro, de homicídio e porte ilegal de arma.
- Já temos material suficiente para comprovar o cárcere privado. A tentativa de estupro será comprovada pela apresentação das vítimas. O acusado será indiciado ainda por tentativa de homicídio devido ao fato de manter a jovem na mira de um revólver e ameaçá-la. Será incluída também porte ilegal de arma porque o coveiro já possuía o revólver antes do fato - explicou Benitez.
Jair teve alta do Hospital da Praia Brava no início da tarde de hoje e foi levado para o Hospital Penitenciário de Bangu, no Rio. Durante a operação para libertar a refém, o coveiro levou um tiro.
O advogado de Jair, Glauco Vasques, destacou que também há pontos positivos a favor do acusado.
- Jair é um homem assalariado e não possui ficha criminal. Ele não invadiu uma residência, estava dentro da própria casa. E ele não tentou abusar sexualmente das vítimas, ele já tinha uma relação com elas. Agora vamos tomar as medidas cabíveis perante a justiça - afirmou o advogado.
Depoimentos se contradizem
O coveiro Jair Fernandes da Conceição dos Santos, de 40 anos, a vítima Priscila da Conceição Lima, de 20 anos, e a menor de 16 anos prestaram depoimento na madrugada de ontem na delegacia. De acordo com o delegado, os envolvidos apresentaram versões diferentes sobre o que aconteceu dentro da casa.
- As meninas disseram que foram até a casa dele com a proposta de serem pagas para ter relações sexuais uma com a outra para que Jair assistisse. Porém, Jair teria se exaltado e forçado as meninas a praticar também o ato sexual com ele. Nessa hora que uma das meninas fugiu. Já o acusado, disse que, na verdade, já tinha relações íntimas com as vítimas, e que a discussão se deu devido à falta de pagamento na venda de drogas. Por isso, ele pegou a arma para intimidá-las, e fazer com que elas pagassem o material que eles todos juntos foram comprar - disse o delegado.
Benitez destaca ainda que todas as hipóteses estão sendo investigadas.
- Independente da motivação, ou do que aconteceu dentro da casa, o cárcere privado, a tentativa de homicídio e a posse ilegal de arma está mais do que comprovado - afirmou Benitez.
O caso em detalhes
Por volta das 16 horas de ontem, policiais do 33º Batalhão de Polícia Militar de Angra dos Reis foram informados que uma menor de idade estava sendo mantida em cárcere privado por um homem, numa residência, situada na Travessa do Caju, no Perequê. A denúncia foi feita por uma mulher que também estava dentro da casa com o acusado e a menor, mas conseguiu fugir antes da chegada dos policiais.
Segundo as informações da Polícia Militar, Priscila da Conceição Lima, de 20 anos, e a menor, de 16 anos, teriam sido convidadas pelo acusado Jair Fernandes da Conceição dos Santos, de 40 anos, para que fossem até a residência dele.
Segundo Priscila, ela e sua amiga foram convidadas a ter relações sexuais, uma com a outra, na frente de Jair. No entanto, as duas teriam sido alvos de uma tentativa de estupro. Elas foram ameaçadas por Jair com um revólver calibre 32, com numeração raspada. Priscila conseguiu fugir, porém a menor foi mantida no local pelo acusado. Em entrevista ao DIÁRIO DO VALE, uma das vítimas contou como conseguiu fugir do acusado.
- Ele tentou nos violentar e toda hora apontava a arma para a minha cabeça e a da minha amiga. Quando ele se distraiu, tentei jogar a arma para fora e parti para cima dele, mas não consegui muita coisa, porque ele conseguiu pegar a arma do chão novamente. Aí fugi e pulei o muro. Mas minha amiga não conseguiu sair - disse Priscila, chorando muito.
Após a chegada do comandante do 33º Batalhão de Polícia Militar de Angra dos Reis, Amaury Simões, no local foi feito o isolamento da área. Eles iniciaram então, juntamente com os agentes do Serviço Reservado da Unidade, uma negociação com o acusado, através de um telefone celular. De imediato, o suspeito exigiu a presença da Imprensa, como condição para libertar a refém e se entregar.
Só que mesmo com a chegada das equipes de reportagem, Jair se mostrou irredutível em sua decisão de sustentar o sequestro. O acusado solicitou ainda a presença de sua filha, irmãos e um advogado para se entregar. Porém, mesmo com a chegada de todos os familiares, Jair não se entregou.
Por volta das 20 horas, cerca de 15 homens do Bope (Batalhão de Operações Especiais) chegaram ao local distribuídos em duas equipes - uma terrestre e outra aérea. Dois policiais do Bope assumiram as negociações com Jair, enquanto os atiradores de elite se posicionaram em locais estratégicos.
Além dos agentes do Bope, ao todo, havia mais de 30 policiais militares, 15 agentes do Grupamento Aéreo Marítimo, e mais quatro da Companhia Independente da Polícia Militar/Cães.
Com a chegada dos negociadores do Bope, por volta das 21 horas, o acusado não demonstrava interesse em se entregar, prolongando a negociação por várias horas. Após a avaliação técnica dos agentes do Batalhão de Operações Especiais, por volta das 01h30min foi realizada a invasão da residência com explosivos, granadas de gás e o emprego dos cães da Polícia Militar.
De acordo com os policiais militares, o acusado tentou reagir e foi atingido com um disparo de arma de fogo, que acertou a parte inferior da axila e a coluna do acusado. A vítima foi resgatada sem ferimentos, porém também foi encaminhada ao hospital, pois estava em estado de choque. Jair foi socorrido e conduzido ao Hospital de Praia Brava, e depois transferido para o hospital penitenciário do Rio.
PMs comemoram sucesso da operação
O coronel-comandante do 5º CPA - Comando de Policiamento de Área/Costa Verde, Marco Alexandre, afirmou que o desfecho da operação de libertação de cárcere privado realizada anteontem, no bairro Parque Mambucaba (Perequê), foi um sucesso.
- Foram quase 10 horas de negociação e vimos que ele queria o suicídio pela polícia. Então nosso grande objetivo era evitar que ele matasse a jovem e se matasse depois. Fizemos de tudo para que ele se entregasse, e quando ele deu indícios de ferir e matar a vítima, invadimos a residência. O principal nós conseguimos, que era garantir a integridade física da vítima e dele. Então, concluímos que a nossa operação foi um sucesso - afirmou o coronel.
O comandante do 33º Batalhão de Polícia Militar de Angra dos Reis, Amaury Simões, destacou que, apesar dos transtornos, o caso foi solucionado.
- Trouxemos todas as pessoas que ele exigiu, e fizemos todos os tipos de negociação, porém ele permanecia irredutível. A invasão foi a última opção adotada pela equipe do Bope, depois de horas de negociação com o acusado. E com o auxílio de todas as equipes, conseguimos resolver, e salvar a vida de todos os envolvidos - disse o comandante.
Familiares e amigos lamentam o caso
Amigos e familiares dos envolvidos no caso lamentaram o crime. Por várias vezes, os amigos e familiares de Jair afirmaram que ele era um homem trabalhador e estava passando por momentos de depressão.
- Não sei como isso foi acontecer, ele é um homem tão honesto, trabalhador. Infelizmente há um tempo ele vinha passando por muitos problemas. Ele se separou, a mãe está muito doente, e ele andava muito triste. Um dia antes do ocorrido ele me disse que estava ouvindo uma voz dizendo que ele ia morrer, e por isso ele se despediu da família toda na véspera do crime. Todos nós ainda estamos muito assustados, pois ele era um homem muito bom, só estava passando por dificuldades - disse a cunhada do acusado, Tânia Maria de Souza dos Santos.
Jair era coveiro do Cemitério da Vila Histórica de Mambucaba, e chegou a ir trabalhar no dia do crime. De acordo com os moradores, os três eram vistos junto com frequência em bares e festas. Os populares afirmam que, antes do sequestro, os três estavam juntos conversando em um bar.
- Muita gente conhece o Jair e sabe que ele é uma boa pessoa. Mas infelizmente estava passando por momentos muito ruins - ressaltou o amigo do acusado, José Eduardo dos Santos.
O coronel Marco Alexandre afirmou que, durante vários momentos da negociação, o acusado alegava inocência.
- Várias vezes, ele nos disse que não tinha culpa de nada, que tudo tinha sido iniciado com uma briga. E repetia sempre que as meninas haviam armado contra ele. Mas isso só as investigações irão comprovar - disse o coronel.
Um dos amigos de Jair, Osanam Batista, esteve presente nas negociações e disse que em vários momentos o acusado afirmou que não queria mais viver.
- Conversei com ele várias vezes, disse para ele confiar em mim e se entregar, mas ele disse que já era tarde demais. Eu ainda insisti com ele, e disse que a vida dele e a da menina eram as coisas mais importantes. Mas ele não me ouviu, e disse ainda que não queria mais viver, e que não tinha mais motivo algum para viver. E isso foi muito triste, pois o conheço há muitos anos e para mim foi uma surpresa ver ele tomar essa atitude - afirmou Osanam, emocionado.
Fonte: Diário do Vale
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